Abílio Martins da Cunha

6. Abílio Martins da Cunha –  nasceu em Santos – Brasil, a 22 Junho de 1899 e morreu em Lisboa em 31 de Janeiro de 1969,  filho de  Manuel da Cunha (12) e de  Ana Rosa de Jesus Cunha (13).

Os seus pais, naturais de Baião, emigraram para o Brasil onde construiram um negócio de cortumes que teve grande sucesso, e lhes proporcionou uma confortável acumulação de riqueza.

Abílio vem para Lisboa para iniciar os seus estudos secundários, no Colégio Académico. Era intenção dos seus pais que tivesse ido para a Bélgica ou Alemanha licenciar-se em engenharia, mas o fim da I Guerra Mundial e o ambiente então vivido na Europa não era propício a esse desígnio. É neste contexto que Abílio Cunha entra nas Belas_Artes de Lisboa, dando consistência à sua vocação para o desenho e a pintura.  Neste período  conhece Almada Negreiros e Sarah Afonso com quem estabelece uma relação de amizade e mantém com eles contactos regulares. Acompanhou Almada Negreiros na pintura dos painéis das gares de Alcântara e Rocha de Conde de Óbidos.

Nesta época vai também aprender a tocar violino com uma reputada violinista de então.

A fortuna dos seus pais vai proporcionar uma dispersão entre várias actividades em que a pintura e a música tiveram particular relevo, acompanhadas de uma vida de jovem boémio.

Abílio Cunha tinha uma inteligência fora de comum, pois além de ter aptidão para a pintura e música, possuia um grande interesse pela tecnologia, com relevo para a mecânica e a electrónica, que então se encontrava em fase de início de grande expansão.

É no campo da electrónica, rádio e posteriormente  televisão que Abílio Cunha vai encontrar a sua via profissional.

Durante toda a sua vida vai dedicar-se à importação e comércio de equipamentos electrónicos, sempre com a preocupação de que as suas empresas garantam a manutenção dos equipamentos que vendia, o que implica possuirem bem apetrechados laboratórios de electrónica.

Vai ser um dos introdutores em Portugal da iluminação fluorescente, tendo as suas empresas capacidade de construção de candeiros, alguns de grandes proporções, com lâmpadas fluorescentes.

Em 1928 funda o posto emissor de rádio, CT1BO – Hertziana, ficando desta forma ligado à radio em Portugal como um dos seus pioneiros. Pode consultar o dossier anexo a este resumo biográfico para conhecer informação adicional sobre o CT1BO.

Casou com Branca Madureira de Azevedo Marinho Martins da Cunha (7), com quem teve uma filha, Maria Manuela Marinho da Cunha Lauret (3), e dois netos.

Foi uma avô extraordinariamente dedicado e amigo, tendo conseguido criar com os seus netos uma enorme cumplicidade. Fez sempre questão de lhes oferecer brinquedos didáticos, que os levassem a perceber melhor a tecnologia e a fomentar a sua criatividade.  O Meccano, comboio electrico, máquina a vapor, caixas de introdução à electrónica, foram alguns dos brinquedos com que avô e netos davam asas à sua criatividade.

Passeou com eles por todo o país e iniciou-os na pratica da condução, sentados ao seu colo, a conduzir o seu Jaguar.

Abílio Cunha dedicou-se também à fotografia, fazendo ele próprio as suas revelações. Os principais alvos das suas fotografias foram os seus netos.

A morte do seu neto Paulo, em 1967, deixou-o profundamente abalado. Não seria mais a mesma pessoa.

Numa fase mais avançada da sua vida os seus negócios começaram a correr mal e talvez a hipótese de falência se pudesse colocar a prazo.

Nestas circunstâncias Abílio Cunha planeia por termo à sua vida, não antes ter feito um acordo de sepação de bens com a sua mulher Branca, em que esta ficou com todo o património existente e ele com toda a parte comercial e por isso crítica.

Quando este processo ficou concluído, Abílio Cunha, em 31 de Janeiro de 1969, suicida-se por ingestão de bartbitúricos, deixando duas cartas: uma para a sua filha e genro, dando indicações muito concretas sobre os procedimentos necessários para que a sua mulher Branca pudesse permanecer independente financeiramente. Infelizmente o seu genro não seguiu qualquer dessas recomendações ficando Branca primeiro a viver com a sua filha e depois com o seu neto. Numa segunda carta, que ainda mantenho, despedia-se da sua mulher, revelando uma enorme sensibilidade e amor pela que tinha sido sua companheira de vida.

Abílio Cunha teve uma vida de muitos interesses, com periodos de grande realização. Apesar da sua componente boémia, permaneceu um homem de grande dedicação à sua família, e ainda hoje é recordado com muita saudade pelo seu neto. O seu fim trágico, e a maneira programada como o executou, revelam um homem de coragem que tudo fez para blindar a sua família, sobretudo a sua mulher Branca, dos erros qua havia cometido.